A fase de tentar engravidar pode ser uma das mais emocionantes na vida de uma mulher, mas também uma das mais desafiadoras emocionalmente. Embora seja comum focar nos cuidados com o corpo — como alimentação saudável, exames médicos e tratamentos específicos — o impacto emocional dessa jornada é muitas vezes negligenciado. No entanto, a preparação emocional e mental durante essa fase é tão importante quanto o cuidado físico.
Para muitas mulheres, a expectativa de engravidar rapidamente pode trazer sentimento de frustração e ansiedade quando isso não acontece. Estudos indicam que o estresse e a ansiedade podem ter um impacto negativo tanto nas tentativas de concepção quanto no processo como um todo. Uma revisão sistemática publicada no Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology (2020) destaca que altos níveis de estresse estão associados a uma menor probabilidade de sucesso nas tentativas de fertilização (Homan et al., 2020).
Além disso, a pressão social e familiar para engravidar pode exacerbar sentimentos de inadequação e de “falha” pessoal. Muitas mulheres internalizam o fracasso de não engravidar como um reflexo de sua identidade, o que pode abalar profundamente a autoestima e a confiança em seu corpo.
Por que fazer terapia durante esse momento?
A terapia se apresenta como um espaço seguro onde a mulher pode explorar seus sentimentos de ansiedade, medo, frustração e até culpa.
Trabalhar com um psicólogo obstétrico pode ajudar a lidar com esses sentimentos de maneira construtiva, evitando que eles se acumulem ou se transformem em um obstáculo para o bem-estar emocional.
Acompanhamento psicológico durante a tentativa de engravidar é uma oportunidade de:
- Gerenciar a ansiedade e o estresse: A terapia proporciona ferramentas para a gestão emocional, ajudando a mulher a encontrar equilíbrio mesmo diante da incerteza.
- Fortalecer a autoestima e o autocuidado: Muitas mulheres relatam que o processo de tentar engravidar abala sua confiança no próprio corpo. A terapia oferece um espaço para restaurar esse vínculo consigo mesma.
- Reduzir a pressão interna e externa: Psicoterapia ajuda a trabalhar expectativas irreais e pressões vindas de parceiros, familiares ou da sociedade, aliviando o peso emocional.
- Lidar com perdas e decepções: Nos casos em que ocorrem abortos espontâneos ou dificuldades de fertilidade, o suporte psicológico é fundamental para processar o luto e reconstruir a esperança.
O impacto do estresse e da ansiedade na fertilidade
Embora o impacto físico da ansiedade e do estresse ainda esteja sendo amplamente estudado, existem indícios crescentes de que o estresse emocional pode afetar os hormônios relacionados à fertilidade. Um estudo publicado no Fertility and Sterility (2019) observou que mulheres que relataram altos níveis de estresse durante suas tentativas de concepção tiveram taxas de fertilidade menores em comparação com aquelas que relataram níveis de estresse mais baixos (Domar et al., 2019).
Além disso, o impacto emocional de cada ciclo menstrual que não resulta em gravidez pode ser devastador para muitas mulheres. Esses sentimentos de fracasso contínuo podem criar um ciclo de sofrimento, dificultando o bem-estar emocional e até a conexão do casal.
A jornada para engravidar não é apenas uma experiência individual, mas muitas vezes envolve o casal. Questões como comunicação, expectativas sobre a paternidade e sentimento de culpa podem surgir.
A terapia de casal oferece um espaço para que ambos possam se expressar, processar suas emoções e fortalecer o relacionamento nesse período de incerteza.
A terapia pode ajudar os casais a trabalharem juntos, criando uma parceria mais sólida para enfrentar os desafios emocionais associados à tentativa de concepção.
A jornada de tentar engravidar é uma experiência cheia de expectativas, mas também de incertezas e desafios emocionais. A terapia oferece um espaço seguro para explorar e lidar com essas emoções, proporcionando ferramentas para enfrentar esse processo com mais serenidade e confiança.
Se você está passando por essa fase, lembre-se de que cuidar da sua saúde emocional é fundamental. O apoio psicológico pode ser o diferencial para viver essa experiência de maneira mais equilibrada e com menos sofrimento.
Referências bibliográficas:
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CAMPOS, Suzana Oliveira; SCORSOLINI-COMIN, Fabio. Infertilidade feminina e conjugalidade: revisão integrativa da literatura. Phenomenological Studies – Revista da Abordagem Gestáltica, v. XXVII, n. 03, p. 279-290, 2021.
Domar, A. D., Rooney, K. L., Milstein, R., & Conboy, L. (2019). Impact of a group mind/body intervention on pregnancy rates in IVF patients. Fertility and Sterility, 112(6), 1051-1060.
Homan, G. F., Davies, M., & Norman, R. (2020). The impact of lifestyle factors on reproductive performance in the general population and those undergoing infertility treatment: A review. Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology, 41(2), 65-74.