A dor silenciosa de tentar engravidar: o impacto emocional da espera na vida da mulher, no casamento e nas relações sociais.

Para muitas mulheres, o desejo de ser mãe é profundo, visceral, quase um chamado da alma. Quando esse desejo encontra a barreira do tempo ou da infertilidade, nasce uma angústia que não cabe em palavras. A cada novo ciclo menstrual, cresce a sensação de fracasso, de solidão e de desconexão — com o corpo, com o parceiro, com o mundo ao redor.

Essa espera, muitas vezes invisível aos olhos dos outros, pode causar um verdadeiro abalo na saúde emocional da mulher, afetando não apenas sua autoestima, mas também sua vida conjugal e seus vínculos sociais.

De acordo com o estudo de Renata Leite e Ana Maria Frota (2014), o desejo de ser mãe está profundamente entrelaçado à identidade feminina, à biografia da mulher e à forma como ela se percebe no mundo. Quando a gravidez não acontece, o impacto psicológico é intenso: frustração, culpa, sentimento de inadequação, medo do futuro.

Esse estado emocional não é apenas uma resposta racional à dificuldade, mas uma vivência existencial profunda. Muitas mulheres relatam sentir-se “menos mulher”, mesmo sabendo racionalmente que a fertilidade não define seu valor. A infertilidade, nesse contexto, é sentida como uma ruptura entre o corpo e o desejo.

A espera que adoece: os efeitos psíquicos e os transtornos associados

Estudos mostram que mulheres em processo de tentativa de engravidar estão mais vulneráveis a desenvolver transtornos mentais comuns, como ansiedade e depressão (CUNHA et al.). A cada teste negativo, reativa-se um ciclo de luto: luto por uma possibilidade que não se concretizou, por um projeto que parece escapar pelas mãos.

E, como se não bastasse o sofrimento psíquico, há ainda a sensação de incompreensão por parte das pessoas ao redor. Frases como “é só relaxar que acontece”, ainda que bem-intencionadas, invalidam a dor e intensificam o isolamento emocional.

O impacto nos relacionamentos

A tentativa prolongada de engravidar também afeta o casal. A relação pode ser atravessada por cobranças, silêncios, distanciamentos e até mesmo pelo medo de perder o parceiro. A sexualidade, que antes era expressão de prazer e afeto, passa a ser associada a metas e frustrações. Muitos casais relatam uma transformação na intimidade, que deixa de ser espontânea e passa a obedecer a uma agenda fértil.

Além disso, o impacto se estende às amizades e à convivência social. Participar de chás de bebê, ouvir anúncios de gravidez de amigas, responder a perguntas sobre filhos em reuniões familiares — tudo isso pode se tornar gatilho para tristeza ou retraimento.

O estudo de Costa e Silva (2020) aponta que o desejo de gravidez também pode reativar conteúdos emocionais inconscientes, ligados à história afetiva da mulher, ao seu vínculo com a própria mãe, à forma como foi cuidada. A não concretização desse desejo pode gerar regressões emocionais, intensificar a necessidade de cuidado, acolhimento e escuta — justamente o que muitas vezes falta nesse percurso solitário.

A importância do apoio e do cuidado emocional

A boa notícia é que o sofrimento não precisa ser enfrentado sozinha. O apoio psicológico durante a tentativa de engravidar é fundamental para ressignificar a experiência e cuidar da saúde emocional. Grupos de apoio, psicoterapia e uma rede de escuta empática fazem toda a diferença no enfrentamento da dor e na manutenção dos vínculos afetivos.

Mais do que tratar a infertilidade como um problema médico, é preciso olhar para a mulher de forma integral — com sua história, seus afetos, seus medos e desejos. Afinal, cuidar do emocional é também uma forma de preparar o terreno para a maternidade, qualquer que seja o caminho que ela venha a seguir.

A psicoterapia pode te ajudar a atravessar esse momento com mais leveza, acolhimento e autoconhecimento.

Você não precisa viver essa dor sozinha.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Raul Max Lucas da; SILVA, Macla Alice Bezerra de Oliveira. Desejo e regressão na gravidez: uma perspectiva psicanalítica. Analytica: Revista de Psicanálise, v. 9, n. 17, p. 1-24, 2020.

CUNHA, Maria do Carmo Vieira da; CARVALHO, João Alberto; ALBUQUERQUE, Rivaldo Mendes; LUDERMIR, Ana Bernarda; NOVAES, Moacir. Infertilidade: associação com transtornos mentais comuns e a importância do apoio social. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, [S.l.], v. 39, n. 12, p. 645–652, 2017.

LEITE, Renata Ramalho Queiroz; FROTA, Ana Maria Monte Coelho. O desejo de ser mãe e a barreira da infertilidade: uma compreensão fenomenológica. Revista Abordagem Gestáltica, v. 20, n. 2, p. 151-160, 2014.

ROCHA, Adriene da Fonseca; GOMES, Keila Rejane Oliveira; RODRIGUES, Malvina Thais Pacheco. Impacto da intenção de engravidar sobre a amamentação na primeira hora pós-parto. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 21, n. 2, p. 445-453, 2021.

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