A gestação é um período de profundas transformações físicas, emocionais e sociais na vida de uma mulher. Embora comumente associada a um momento de alegria e realização, não raro é também atravessada por desafios emocionais que podem levar ao desenvolvimento de transtornos psicológicos, como a depressão gestacional.
Este artigo busca explorar as causas, manifestações e consequências da depressão na gestão, além de discutir caminhos de intervenção a partir de uma perspectiva psicológica humanizada e baseada em evidências.
De acordo com Pereira e Lovisi (2008), a depressão gestacional é um transtorno de humor caracterizado por sintomas como tristeza persistente, desinteresse por atividades cotidianas, alterações no apetite e no sono, sentimento de culpa ou inutilidade e dificuldades de concentração. Durante a gravidez, esse quadro pode ser potencializado por fatores hormonais, histórico de transtornos mentais, violência psicológica, conflitos conjugais e falta de rede de apoio apropriada.
Estudos apontam que a prevalência da depressão gestacional varia significativamente, afetando cerca de 10% a 20% das gestantes (Pereira & Lovisi, 2008). Essa variabilidade está associada a fatores socioeconômicos, condições de saúde preexistentes e contextos culturais.
Impactos da depressão na gestante e no bebê
Krob, Godoy e Leite (2017) destacam que a depressão na gestação pode comprometer a vivência do próprio período gestacional e afetar a responsividade materna após o parto. Mães que vivenciam depressão podem apresentar dificuldades em estabelecer vínculos afetivos com seus bebês, o que pode impactar o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. Além disso, a exposição às alterações neuroendócrinas associadas à depressão pode influenciar negativamente no crescimento intrauterino, aumentando os riscos de prematuridade e baixo peso ao nascer.
No contexto da responsividade materna, é importante destacar que a depressão pode prejudicar a capacidade da mãe de reconhecer e atender às necessidades do bebê. Essa dificuldade não é uma escolha consciente da mulher, mas sim um reflexo do adoecimento emocional, reforçando a necessidade de compreensão e acolhimento (Krob et al., 2017).
Conforme destacado por Pereira e Lovisi (2008), diversos fatores podem estar associados ao surgimento da depressão gestacional, entre eles:
- História pessoal ou familiar de depressão;
- Baixo suporte social;
- Situações de estresse crônico, como dificuldades financeiras ou relacionamentos abusivos;
- Gravidez não planejada;
- Mudanças hormonais que ocorrem durante a gestação.
Compreender esses fatores é essencial para um diagnóstico precoce e intervenções efetivas.
O papel da psicologia perinatal no cuidado à gestante
A psicologia perinatal desempenha um papel fundamental na prevenção e no tratamento da depressão gestacional. Por meio de estratégias como psicoterapia individual, suporte em grupos terapêuticos e psicoeducação, é possível acolher a gestante em suas demandas emocionais, fortalecendo sua autoeficácia e promovendo um ambiente mais saudável para a mãe e o bebê.
Intervenções integradas, que envolvam o apoio da família e da rede social da gestante, também são cruciais. Além disso, a sensibilização de profissionais de saúde para o reconhecimento dos sinais de depressão pode aumentar as chances de encaminhamento adequado e tratamento oportuno.
A depressão na gestação é um desafio significativo que exige uma abordagem multidisciplinar e humanizada.
Como psicóloga perinatal, o meu compromisso é acolher essas mulheres com empatia e instrumentalizá-las para atravessar esse período com mais leveza e confiança. O cuidado emocional durante a gestação não apenas beneficia a mãe, mas também promove um início de vida mais saudável para o bebê.
Buscar ajuda é um ato de coragem e um passo fundamental para o bem-estar de toda a família.
Referências
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Krob, A. D., Godoy, J., & Leite, K. P. (2017). Depressão na gestão e no pós-parto e a responsividade materna nesse contexto. Revista de Psicologia da Saúde, 9(3), 3-16.
Pereira, P. K., & Lovisi, G. M. (2008). Prevalência da depressão gestacional e fatores associados. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 35(4), 144-153.