A decisão de engravidar envolve mais do que preparar o corpo fisicamente. Embora exames médicos, alimentação balanceada e acompanhamento ginecológico sejam fundamentais, o aspecto emocional, muitas vezes negligenciado, é igualmente crucia.
A preparação emocional para a gravidez pode transformar profundamente a experiência da maternidade, trazendo mais leveza, segurança e autoconfiança ao longo da gestação.
Muitas mulheres começam a planejar a gravidez carregando sonhos e expectativas sobre o que essa fase representará em suas vidas. No entanto, é comum que o processo de gestar venha acompanhado de uma avalanche de sentimentos conflitantes: medos, incertezas e inseguranças. O receio de não ser “boa o suficiente” ou de que algo possa dar errado durante a gestação são exemplos de angústias recorrentes que podem afetar a saúde emocional da mulher.
Um estudo recente publicado no Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology (2022) mostrou que o estresse emocional pré-gestacional pode aumentar as chances de complicações obstétricas, como parto prematuro e restrição de crescimento fetal.
O mesmo estudo destacou a importância de intervenções psicológicas precoces como forma de reduzir essas ocorrências, ressaltando o impacto que a preparação emocional tem tanto na mãe quanto no bebê.
A gravidez não é apenas uma fase de expectativas futuras, mas também um momento de reencontro consigo mesma. Muitas mulheres relatam que, ao decidir engravidar, emoções mal resolvidas do passado vêm à tona, exigindo um olhar mais cuidadoso. Questões relacionadas à autoimagem, relacionamentos e experiências familiares podem emergir de maneira intensa.
Segundo Donald Winnicott, um renomado pediatra e psicanalista britânico, o desenvolvimento emocional do bebê começa antes mesmo do nascimento, sendo influenciado pela qualidade do vínculo da mãe com ela mesma e com o bebê. Para Winnicott, “uma mãe suficientemente boa” é aquela que consegue reconhecer suas vulnerabilidades e acolhê-las, criando um ambiente emocional seguro e acolhedor para o bebê desde o útero.
O autocuidado emocional na preparação para a gravidez envolve mais do que momentos de lazer e descanso. Ele implica, principalmente, em um processo de autoconhecimento. Refletir sobre suas expectativas, reconhecer os medos e limites, e buscar apoio especializado são passos fundamentais para construir uma base emocional sólida para essa nova fase da vida.
Além disso, contar com uma rede de apoio durante o período gestacional — seja o parceiro, a família ou amigos próximos — é fundamental. Estudos mostram que mulheres que se sentem emocionalmente amparadas tendem a lidar melhor com os desafios da gestação e apresentam menores índices de ansiedade e depressão.
A terapia como espaço de preparação e reflexão
É nesse contexto que a terapia psicológica se torna uma poderosa aliada. Ao oferecer um espaço seguro para expressar sentimentos e medos, o processo terapêutico ajuda a mulher a se preparar emocionalmente para a chegada do bebê.
O acompanhamento por um psicólogo especializado em saúde perinatal possibilita uma escuta qualificada para que questões como ansiedade, estresse e autoestima sejam abordadas de maneira individualizada.
A jornada da maternidade começa com a mulher se conectando consigo mesma. O papel da terapia é auxiliar nessa conexão, oferecendo ferramentas para lidar com os desafios emocionais que surgem no decorrer da gestação.
Se você está planejando engravidar ou já está no início dessa jornada, refletir sobre sua saúde emocional é tão importante quanto cuidar do corpo.
Permitir-se viver esse momento com autenticidade, reconhecendo suas vulnerabilidades e buscando apoio, pode ser o diferencial para uma gestação mais tranquila e uma maternidade mais consciente.
Referências bibliográficas:
Winnicott, D. W. (1987). O Brincar e a Realidade. São Paulo: Imago.
Shah, P., & Kinsella, E. (2022). Psychological distress and pregnancy outcomes: A systematic review of the literature. Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology, 43(2), 150-162.
Piccinini, C. A., Lopes, R. S., Gomes, A. G., & De Nardi, T. (2008). Gestação e a constituição da maternidade. Psicologia em Estudo, 13(1), 63-72.
Steen, M., & Francisco, A. A. (2019). Bem-estar e saúde mental materna. Acta Paulista de Enfermagem, 32(4), Editorial.